- últimas doses de whisky

Cansei de você e de suas trágicas histórias de amor, rapaz. – disse o mais educadamente que pude- De ver você aqui todos os dias chorando as pitangas no meu ombro. Tira-me a paciência e o sossego por completo!

Os olhos deles ficaram escuros de repente. Mas até, do que o sujo cabelo preto –parecia que ele não tomava banho a alguns dias, e o seu cheiro o denunciava- contrastando com a pele branca, e deixando-o com um ar ainda mais misterioso do que o normal. Aquele rosto me fazia sentir arrepios, mas mesmo assim tive coragem de continuar:

- É hora de dizer adeus, então tome suas últimas doses e dê sua última gorjeta. Isso é o mínimo que pode fazer depois de todo o tempo que me fez perder durante essas noites.

Isso era tudo que eu queria lhe dizer, mas não disse, as palavras pareceram ficar entaladas na minha garganta e por alguns minutos não consegui respirar, vi a morte chegar perto... Mas perto do que deveria chegar de alguém jovem, como eu.

- Olha, eu acho que é melhor você ir embora. Nós já iremos fechar e...
- Mas ainda tenho tantas coisas para lhe contar.
- Quem sabe amanhã?-disse tentando dar-lhe um pouco de animo- Amanhã não estarei aqui, mas...
- Então não voltarei amanhã. Só interessa-me que as minhas palavras sejam ouvidas por você, ninguém mais. Encontrei na senhorita, uma boa amiga-ouvinte.

Sorri, mesmo sendo aquele o sorriso mais amargo de toda uma vida. Para ele, só era uma boa ouvinte dos seus problemas e que não era preciso dispor de dinheiro. Concordei com essa vida, essa nossa relação de mão única, porque afinal de contas, eu gostava de que ele viesse ali todas as noites para desabafar. Isso significava que ele estava triste, sozinho e que eu poderia em um futuro próximo, ser aquela que o faria esquecer todas suas agonias. Mas o futuro nunca esteve próximo, nunca se tornou presente. Ás vezes o tempo não muda, permanece o mesmo para uma peça na gente pregar.

# Confidenciado para o Letra e Música.
# É algo mais detalhado sobre esse post aqui.
Ele (o Gabriel) veio falar comigo um dia desses, e reclamou d'eu ter o ignorado nos últimos tempos. Desculpei-me da maneira que pude, e o convenci que não o faria mais. Porque o melhor mundo é o de fantasias, ele mora lá. Bom, fazia tempo que eu não escrevia nada sobre ele -para quem não sabe, Gabriel é um menino imaginário com quem eu converso quando estou sozinha (ou acompanhada). Para ler outras histórias que o envolvem cliquem no marcador.

Comentários

Julia Melo disse…
cara voce tem um amigo imaginário :O, amei.
gostei do texto tmb. beijos.
anaa ' disse…
cara voce tem um amigo imaginário :O [2]
amei a história (: beeijo
Raphael Trew disse…
Hoje resolvi o seu Quem escreve, e Percebi que Gabriel cabe nas loucuras do seu QUEM.
Renata disse…
não sei o porque do espanto.
é saudavel, e posso conversar horas e horas sem alguém dizer pra mim que o meu tempo acabou.
Mali Melo disse…
nossa, adorei esse texto! adorei mesmo =)
e esse seu amigo imaginário... que legal! espero que vocês voltem a ser como eram antes, então, haha.
bj bj
Babi Farias disse…
De Gabriel não quero nem pela imaginação... (Recordações, amor, ira, dor... Tudo junto e misturado!) Mas adorei o fato de você ter um amigo imaginário. Até eu converso com os "meus botões", vezenquando. (:

E adorei o post em si, boa sorte!
Beijos
:*
Violeta disse…
pois é. aquele futuro próximo que de próximo não tem nada :/
e que o tempo não consegue mudar.

en fim, como sempre, achei perfeito *-*.

se cuida :*
Thais Alves disse…
"Ás vezes o tempo não muda, permanece o mesmo para uma peça na gente pregar."

ameei *-*'
Fernanda Cabral disse…
Oh, ótimo texto.
Eu também tenho um amigo imaginário, ele muda de rosto sempre e não tem um nome certo, só sei que conta as melhores piadas quando estou fazendo um programa de índio. O resto do tempo, eu converso sozinha, o que é um tanto divertido, porque eu discordo de mim mesma e aí fica confuso... Confuso como esse comentário, sabe?

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