- depois arrependeu-se mais era tarde

Se arrependeu de todas as promessas feitas para outras pessoas e ainda mais daquelas que fizera a si mesma. Aquelas que ninguém fica sabendo e que não se cumprem, por não ter ninguém para se lembrar delas. Se arrependeu de não desistir fácil, de ter levantado da cama e não ter ouvido a intuição que lhe dizia para nem começar uma nova história. Agora pensava  em qual serventia teria aquele tal de sexto sentido se nunca usava, só para poder por algum tempo ser contorcionista e meter mais uma vez os pés pelas mãos.

Não parou por aí. Se arrependeu dos sonhos que agora iam se desmanchando no teto branco acima de sua cama, onde à noite, fizera tantos planos bonitos e achou que eles eram meio como as nuvens. Sem ter muito porque. Talvez pelo simples fato de se desmancharem quando se chega lá. Mas não sabia, não tinha lido nenhuma pesquisa cientifica que comprovasse sua tese.

Se arrependeu de ter marcado o dentista para o dia seguinte, de ter acabado com a comida e ter que passar no mercado amanhã na volta do serviço, de não ter aproveitado aquela promoção relâmpago na loja de colchões porque suas costas agora doíam.

Lembrou-se que talvez todo o problema estivesse em uma única coisa simples, e odiou o Efeito Borboleta mesmo sem saber saber direito o que era, porque logo lhe veio a cabeça o dia derradeiro que geraria todas as outras dores, inclusive as de cabeça.

Era noite e estava na academia tentando encontrar uma maneira de pregar uma peça em si mesma, só para se convencer que o dinheiro da matrícula não fora inútil e um homem perguntou-lhe qual era seu exercício preferido, e ela sem hesitar respondeu: pensar.

Depois arrependeu-se mais já era tarde. O leite fervia e se espalhava pelo fogão. Arrependeu de se ter arrependido por tempo demais, agora teria que limpar toda a bagunça.

A partir de hoje não tem mais player de música, uma lastima.