- le mouche

Hoje não vou falar de amor

The Good Old Days - Eels

Preparei uma sopa (segundo o médico é melhor que me alimente de coisas que passem fácil pela garganta, e isso inclui não engolir mais sapos) e sentei-me à mesa. Até aí tudo em sua mais tediosa tranquilidade, mas o destino me reservava uma surpresa, ou melhor: uma mosca. Ali, pousada na minha colher, parecendo se divertir com a situação. Fechei a cara. O que é da vida de um homem se ele nem pode tomar sua sopa em paz?Nada!Eu precisava da minha sopa, e agora não podia toma-la porque uma maldita mosca havia achado que aquele seria um bom lugar para descansar suas asas!

Encarei-a. Olhei bem no fundo daqueles olhos e tentei mostrar que quem mandava ali era eu, mas foi inútil. Parecia que nem o meu olhar mais aterrorizante a amedrontava. Corajosa. Foi aí que me coloquei a pensar que como tudo na vida tem uma razão, isso, por mais absurdo que podia parecer também deveria de ter a sua. E qual seria o significado de uma mosca na sua sopa? 

Talvez eu esteja mesmo velho. E talvez só por isso teime ver profundidade em tudo, para me convencer de que o tempo transcorrido do meu nascimento até aqui valeu de alguma coisa. Que aprendi a olhar mais no fundo, não só na lata. Mas ainda sou o mesmo. Ainda sou eu! Sem uma chupeta, uma mamadeira, uma namorada... Mas ainda tenho o mesmo nome e sobrenome da certidão. Logo hoje que isso hoje não me vale de nada, porque justo nessa manhã, acordei não querendo ser eu.

E bom, talvez essa mosca tenha vindo pousar aqui, simplesmente por não ter outro velho maluco para enlouquecer.