- uma questão de corte e costura

Hoje foi um dia estranho Mario, assim como você, com todo o respeito. Eu tenho pensado muito. Já notou como isso é maluco? Uma voz dentro da sua cabeça que decodifica o seu interior e transforma tudo isso em algo que se possa entender, ou quase. A gente não se dá conta de tanta coisa, e a cada passo me convenço mais de que a vida é estar sempre em situação de débito sempre se esforçando ao máximo para que elas possam fechar no azul no final, não importa do que você queira chama-lo.

Mas eu não vim aqui para falar sobre a balança da justiça Mario, não sou assim tão pretensiosa. É que hoje eu me prestei contas e uma ficha caiu. Percebi que até que se tenha um espaço de tempo para que se possa conhecer ou reafirmar o conhecido, não será tarde demais. Por isso, se esse ano sua lista de metas ainda estiver incompleta, aqui vai uma: não espere o último suspiro, ele é supervalorizado. Quando se chega a esse ponto ninguém presta atenção no hoje. Já se está vivendo do pretérito quando o futuro já não parece querer acontecer. Faça com que esteja lá, Mario, na retrospectiva, desse e dos outros anos. Se quer saber de uma coisa, eu sempre achei que se é verdade mesmo que conseguimos calcular o quanto uma pessoa é amada, é pelo número de vezes que ela aparece nas nossas vidas nos momentos importantes, bons ou ruins, sem ficar sem graça, chata.

Tente conquistar sua cadeira cativa, seu lugar exclusivo, mas saiba que é tudo mentira, nada é garantido. A gente confirma é mesmo na presença de cada dia, não importa se pela manhã, a noite ou a tarde. Garantimos um lugar dia após dia. É como vender o almoço para comprar o jantar, pagar aluguel, levantar da cama. Se por um dia ou dois não conseguimos, tudo bem, sem drama, se a coisa se estende, fica mais para cheque especial, a coisa complica e já estou te dizendo isso para você não ser teimoso e escolher o caminho difícil se tiver uma opção melhor. Nem sempre os machucados que se consegue neles vão fazer ter valido a pena. Sempre temos escolha, e é aí que mora o perigo. Não vá viver lá, tem casas que só servem para visita e isso é algo que ninguém nos conta, por isso não espalhe.

Confio em você, com um olho aberto e outro fechado, mas sim, acredito que na hora devida você faz a escolha certa. Outra coisa: o tempo é um amigo. É, eu sei, gosto de polêmica, mas acredito no que digo. Sabe qual é o grande problema? As pessoas não dão tempo ao tempo, ou se dão, é esse delas. Ah, ele é diferente, é o tempo do mundo. Tem muito, o que damos parece pouco e isso nos exaspera. Deixe o tempo decidir qual a melhor hora, mas não se emudeça na fila de espera porque ás vezes concordo que ele só funciona com um belo puxão de orelha. Sim, o tempo tem orelha, é por lá que ele ouve os seus pedidos, mas não vou entrar nos méritos de seus atributos físicos. Isso não é bom para minha reputação.

Mario eu sei que você não sabia de nada disso porque apressado não se rendeu a uma noite de sono. Esse é o grande mal de quem não acredita no amanhã. Os pobres coitados acreditam que é reprise, mas uma grande estreia não se anuncia de bandeja. A programação inédita é restrita aos que guardam a esperança dentro de um bolso que está sempre costurado. Pode-se até gastar uma fortuna em alfaiates e costureiras profissionais mas a graça toda está em aprender a costurar a mão seus próprios remendos, pois ninguém sabe mais deles do que você, então aguarde e guarde-a bem. É tudo uma questão de corte e costura. Para o ano novo, velho ou até mesmo aquele que não quer tomar partido de nenhum dos lados de maneira esperta, compre agulha e linha, é importante costurar. Remendar-se, durante doze meses, enquanto a vida durar.

Bom, eu bem que disse que andava pensando muito, e talvez seja só isso, mas eu estou compartilhando contas porque entre um parágrafo e outro descobri que é um jeito mais leve de se carregar o que se acha pelo caminho.

                                                                                                               Te (a)guardo na retrospectiva.


Qualquer semelhança com a vida real ou nome de um personagem de video game de sobrenome Bros que exerce a profissão de encanador e resgata princesas, acredite, é mera coincidência.

Comentários

Violeta disse…
um dos melhores textos sobre ano novo que já li em 2014 :)
(ainda tenho que responder o seu e-mail adfgjkfg)
Luís Monteiro disse…
Das coisas que me chamaram atenção neste texto foi o que você escreveu sobre o tempo. O tempo é mesmo um amigo, um amigo daqueles verdadeiros mais que, como nada é perfeito, as vezes demora demais ou em outras, é muito afobado.
Acontece que tudo só acontece no seu momento, e se assim não for, das duas uma: ou você não aproveitou a oportunidade ou não era pra ser mesmo.
Espero que esse texto tenha sido pra um Mário que não seja o do videogame.

Como sempre, muito bonito. Bjos

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