- relato de um dia errado

Era uma terça-feira e quando coloquei os pés no chão não sabia o que me esperava. Minha carona foi embora sem mim, tive que correr para pegar o ônibus, o crédito do bilhete único estava acabando, não consegui sentar na janela, quase perdi o único dinheiro que tinha - mas um homem ainda conseguiu me avisar do infortúnio. Descobri que o ponto aonde costumava descer não existia mais e tive que andar o dobro do que imaginava. Cheguei atrasada, não é preciso nem acrescentar, logo eu que costumo me orgulhar de ter pontualidade britânica. Como se não fosse suficiente descobri que a prova que estava marcada para daí dois dias ia ser aplicada naquele momento.

Só faltava piorar, tropeçar na calçada molhada, bater a cabeça no meio fio, ser atingida por um raio e por consequência, morrer.

Mas o que começa mal só pode melhorar. Fui bem na prova, ouvi coisas bonitas. Na volta para casa consegui lugar no ônibus assim que entrei, desconfiei de que o moço lá do fundo piscava para mim. Ri porque a essa altura meu santo já estava mais do que desconfiado e meu cérebro começava a entrar em pane. Dor de cabeça batia à porta e como viu que fingia não estar em casa, derrubava-a aos chutes.

Tudo isso só porque hoje queria falar sobre o moço atrás do ônibus que piscou para mim quando o dia estava todo errado, torto. Tem dias que to never have been born may be the greatest boon of all, eu sei, mas na maior parte do tempo me alegro de poder dizer que é exatamente o contrário. Venho também para me desmentir, e deixar registrado que nem sempre o que começa mal termina do mesmo jeito. Ás vezes você termina ouvindo Dog Days Are Over, comendo sorvete de flocos na frente da tv com a sensação de que consegue ser feliz por nada.