- buraco negro


Há quem diga que a chave para felicidade é a estratégia. O engraçado é que no meio de tanto plano em busca de ser feliz acabamos virando comerciantes, pois é necessário sentar e rever seus planos, contas, incluindo todas as perdas e ganhos. E se quando ainda criança me perguntavam o que eu queria ser, qualquer coisa que envolvesse lidar com balanços estava terminantemente fora de qualquer tática que pudesse inventar para vencer na vida. Até porque não me passava pela cabeça precisar de alguma.

Venho perdendo coisas na minha caminhada. Primeiro foi o apego pela mamadeira, depois os dentes de leite, que deu um basta na choradeira desenfreada e incluso no pacote, também no imaginar que dentro do meu guarda-roupa havia uma porta que me levaria para outros lugares.

Perdemos o tempo todo, e quase sempre coisas irrecuperáveis, porque nem sabemos que deixamos pelo caminho. Ás vezes apenas uma chance de surpreender e de errar, outras de registrar o bilhete sorteado da loteria.

A cada final de tarde é um dia a menos, mas seria injusto se não olhássemos para o que acabamos conseguindo. Pode ser o privilégio de experimentar novos pratos, dentes mais fortes ou mais coragem. Talvez ao fim desse mesmo dia você tenha ganhado uma lembrança que vai ocupar lugar de destaque na sua retrospectiva.

Mas há dias, nessa vida de comércio, onde vendemos um pouco de nós mesmos, em que na hora de fechar o caixa as contas não batem, e saímos no prejuízo. A balança se desequilibra e o vazio aparece, vindo daquele troco errado. Tudo culpa do freguês que não aceita mais balas de hortelã. E vira buraco negro, estrela mal alimentada que tenta sugar a beleza de qualquer outra coisa no caminho.

Talvez hoje as contas resolvam não fechar do jeito que deveriam, e você vai sentir vazio. Talvez tenha sido ontem. Pode ainda não saber se ele virá depois de amanhã, no mês que vem, ou até ter esperança de que não virá. Sinto muito, ele sabe o caminho. Nós deixamos rastros, e não é algo pelo qual devemos nos culpar. É preciso ter algo para lembrar também por onde andamos.

Quando ele vier, do seu jeito inevitável, lembre-se que o vazio tem o único objetivo de ser preenchido. Ele não gosta de sua própria existência, não anda tendo tempo para as ciências de Freud e tem grandes tendências suicidas. Mas não se engane, nada disso faz dele bom sujeito, nem digno de pena por não poder se amar, só é medroso e se alimenta de todas as nossas covardias.

Arraste-o para a inexistência. O vazio serve para ser preenchido com coisas bonitas, e você tem a opção de fazê-lo ou não, mas há certos momentos na vida onde não podemos perder mais nada, nem se dar ao luxo de não fazer a escolha certa.

Comentários

Renata disse…
uma das metas de 2013 é postar mais. vamos ver no que dá.
Luís Monteiro disse…
Já outros dizem que pra felicidade não existe formula secreta. Que não depende de muita coisa, e aquele velho clichê de que ela está nos momentos mais simples, o que de fato é verdade.

E sim, no fundo somos todos comerciantes nessa vida. Embora não tenhamos muitos lucros, bons compradores, e na maioria das vezes perdemos mais do que ganhamos. Fazemos de tudo pra convencer os clientes só pra no fim do dia ir dormir com a esperança de ter feito um bom negocio. Mais no fim, no fim a gente quase sempre sai perdendo. Descobrimos, encima da hora, que esse ramo de comercio nunca foi a nossa praia.

Por isso, é sempre bom apostar em coisas de boa qualidade pra preencher o vazio. Pra que depois não paguemos caro demais. Porque a vida é curta pra ficar gastando tempo fazendo coisas que no fundo, não trará nenhum resultado.

Boa noite moça,
Ana Carolina disse…
A passagem do seu texto sobre perdas de mamadeiras e afins está muito engraçada, fez-me sorrir. Gosto da forma que escreve seus textos, delicados e bem-humorados.

Sobre os vazios, no fundo, no fundo, sempre haverá um por conta de nossas ânsias por sempre querer mais ou ser mais. E como você disse, ele alimenta-se de novas fraquezas, inclusive daquelas que não ousamos pensar ter.

Ana Carolina

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